NOVOS CONHECIMENTOS AJUDAM A ENTENDER OS BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NA SAÚDE CARDIOVASCULAR E METABÓLICA
No passado, o exercício físico era tido como um componente do estilo de vida capaz de, unicamente, induzir gasto de energia. Embora seja importante para prevenir e tratar a obesidade, o exercício físico deve ser discutido em um contexto muito mais amplo. Há evidências epidemiológicas de que uma vida fisicamente ativa desempenha um papel independente na proteção contra inúmeras patologias, incluindo o diabetes
tipo 2, obesidade, doenças cardiovasculares, distúrbios do sono, câncer, demência, ansiedade e depressão.
O entendimento de que o músculo esquelético é um órgão endócrino capaz de secretar proteínas denominadas miocinas, que regulam diferentes tecidos, propiciou mudanças nos paradigmas relacionados ao condicionamento físico e saúde e ao sedentarismo e doença. Como o tecido muscular pode corresponder a 40% do corpo, a maior glândula do corpo humano é, portanto, o músculo. Com o exercício físico, essa glândula é estimulada a regular o metabolismo de forma saudável e, ao contrário, sem contração muscular adequada, essa grande glândula atrofia e, consequentemente, ocorre a doença.
O conceito de que o exercício físico e, em particular, o músculo, têm um efeito semelhante ao endócrino em outros tecidos foi proposto pela primeira vez por Bente Petersen e colaboradores, em que o termo miocina foi utilizado para denotar essas substâncias derivadas do músculo esquelético, que são produzidos e secretados na circulação por qualquer tecido/órgão em resposta ao exercício, exercendo efeitos autócrinos, parácrinos ou endócrinos.
Esses fatores musculares incluem: interleucina 6 (IL6), irisina, miostatina,
folistatina e fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), entre muitos outros.
O conhecimento em relação às miocinas ainda está emergindo e vários
desafios permanecem na caracterização e validação dessas substâncias.
As miocinas secretadas pelo músculo propiciam uma massa corporal mais
magra, proteção contra obesidade, diabetes e menor risco cardiovascular.
A interação entre o músculo e o tecido adiposo, o osso, o fígado, o tubo
digestório e os sistemas cardiovascular e nervoso, através das miocinas liberadas.

Embora a descoberta das miocinas ainda não tenha sido explorada
terapeuticamente no tratamento da obesidade, diabetes ou de seus distúrbios relacionados, o entendimento de como o tecido adiposo, o fígado, o osso, o cérebro e outros órgãos são estimulados por fatores secretados pelo músculo pode levar à identificação de novos alvos terapêuticos. Essa mensagem fortalece o potencial futuro da aplicação das miocinas, explorando drogas que mimetizem seu efeito, como instrumento de prevenção e tratamento de doenças e confirma o papel central do exercício físico como determinante da saúde metabólica, cardiovascular, óssea e neurológica.

Considerando que o músculo é uma glândula que libera miocinas induzidas
pelo exercício físico, quando essa glândula não é estimulada, como no sedentarismo, ocorre sua atrofia anatômica e funcional, com consequente doença. Assim sendo, o sedentarismo pode ser considerado uma doença endócrina, onde a maior glândula do organismo está hipofuncionante.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Macedo CLD. O músculo como um tecido endócrino. Evidências em Obesidade e Síndrome Metabólica. Revista da ABESO. 2020, abril:11-15.
AUTOR
Clayton Luiz Dornelles Macedo, MD, PhD
Sócio fundador da Haux
Doutor em Endocrinologia Clínica
Especialista em Medicina do Esporte e do Exercício
Professor dos Cursos de Pós-graduação em Endocrinologia e Medicina Esportiva da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP
Coordenador do Núcleo de Endocrinologia do Exercício (Medicina Esportiva – UNIFESP)
Membro do Departamento de Diabetes, Exercício Físico e Esporte da Sociedade Brasileira de Diabetes – SBD
Presidente da Comissão Temporária de Estudos em Endocrinologia do Exercício – CTEEE da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – SBEM
Membro do Departamento de Atividade Física da Associação Brasileiro para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO
CONTATO
clayton.macedo@haux.com.br